segunda-feira, 23 de julho de 2007

Critíca terática

Confabulações Nonateráticas
-Emmanuel G. Lisboa-

O tempo é um tema recorrente na arte. Essa recorrência se dá pela necessidade do tempo, sua importância relativa à efemeridade da vida humana, e ainda sua preocupação contínua em um mundo mecanicista.
É a partir da modernidade que a literatura se valerá do tempo para sua construção. O escritor francês Marcel Proust fez do tempo, em sua vasta obra, um elemento memorial. Onde a partir dele fazemos a garantia de nossa eternidade. Eternidade que paradoxalmente é perene, pois em diversos casos essa eternidade fenece com cada indivíduo em seu fenecimento físico. Ou seja, com a morte se vai uma memória que é presa ao tempo de vida biológico. Aqui vejo um dos pontos de relevância da literatura, conforme Shakespeare já previa é no texto artístico que se imprimirá a eternidade da pessoa, e incluo eu, é no texto que se imprimirá a eterna memória do ser.
Ser que incluso em um tempo mantem-se preso a ele, mas com saudades de outrora.
Outro escritor, Carlos Drummond de Andrade, também utilizou um tempo que é passado e conserva certa memória. Cantando sua Minas que foi e não volta mais . A poesia permite que a vejamos como o lugar de habitação com folgança de memória vale aqui lembrar de outro autor no início do Poema Sujo Ferreira Gullar distante de sua terra a memoriza em acordo com um tempo que já foi, a infância.
Santo Agostinho já dizia que era dentro de si que encontrava a si mesmo. Encontrar a si mesmo é rever-se, refletir sobre sua humanidade e consequentemente localizar sua teratologia.
Desde a antiguidade o homem reflete, refrata, confabula sobre si dentro de um tempo. Ao lançar-se no tempo é possível se ver benevolentemente e malevolamente. Seja com saudade, com aceitação ou necessidade.
Em Proust vejo o tempo como necessidade, pois o personagem precisa de tempo, tempo que lhe falta. Leio Em busca do tempo perdido como um tratado acerca da intemporalidade temporal. Ao passo que na leitura de Ferreira Gullar verifico um tempo de saudade, lembranças que não mais voltam e dado ao medo são necessárias a um Ser. Fato corroborado pela impressão de desespero que sinto ao ler o poeta maranhense.
Conquanto ao ler Carlos Drummond de Andrade impresso-me em um tempo que precisa voltar, mas que ainda nem mesmo veio. É a saudade daquilo que ainda não passou.
Em Agostinho o tempo lá está como necessidade de ligação sagrada.
Mas há um poeta que tece e retece o tempo. No tempo memorial localiza a si mesmo, conflitua com suas mazelas e as aceita como parte de um Ser que resiste a um tempo. Resistência que conflitua com a mortalidade do poeta e a imortalidade do Sujeito-Poético, muitas vezes sinto ao lê-lo que o poeta deseja trocar de lugar com o sujeito poético. Imortalizando-se pela morte do seu Sujeito. Vê-se na leitura de tal poeta saudade do que foi, que encontra-se necessariamente ao Ser dentro de si. Um encontro sagradamente profanável onde seu sagrado se dá pela singela visão de Maria Cristina(...) Tão Original, ou em um intertexto com Casimiro de Abreu em Quando eu tinha doze/ tinha uma namorada de cabelos/ .
Nesses versos Raimundo Nonato, vale-se de seu passado para se imortalizar, e imortaliza-se pela voz de outro que é si e que não é ser. A infância e a observação são seus temas recorrentes. Voltando a um e outro, escreve com a bic da lembrança e a folha do esquecimento. Essa dicotomia do paradoxo em Nonato faz uma monstruosidade singela que é desnudada pelo medo e pelo descaso. Esses recortes de sua poesia quando vista pelos preparados levam o leitor ao estado de desespero e medo. Onde muitas vezes é muito mais aterrorizador ler qualquer poesia Nonática do que um conto de Poe. Pois ao ler o mineiro temos uma corda. Corda que se estende entre o homem mortal e o sujeito poético imortal, essa corda é bamba e funciona em uma ida e volta na qual o homem não consegue chegar ao sujeito e nem o sujeito chegar ao homem.
O tempo na poesia de Nonato, não é necessidade, nem encontro, mas sim aceitação em numerário que eleva diminuindo a tenacidade da alma humana.

2 comentários:

Prof Danilo de Português disse...

purfantástico!
não tinha conhecimento desse site,sinto-me na obrigação de dizer a teratologia( sempre cri nisso) será o movimento do século, já conversei com biólogos, filósofos, inumeros poetas e escritores em geral sobre a teratologia, e todos me dizeram que é uma idéia excelente. Eu também o acho!
manoel, parabéns, ficou fabuloso

Danilo Marqui

Unknown disse...

Maaanu, aqui meu bloog bem simplisinho, postado quase nunca.. ;D

:**

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